
A Ilha da Culatra situa-se a sul das cidades de Faro e Olhão, na província do Algarve, inserindo-se numa zona lagunar que confronta a norte com a Ria Formosa e a sul com o Oceano Atlântico. Com aproximadamente 6 quilómetros de comprimento e 1,2 quilómetros de largura na sua extensão maior, é a mais distante das ilhas, excluindo a Ilha da Barreta (sem ocupação humana), sendo o acesso assegurado por barcos, que partem de Olhão e, na época balnear, também da cidade Faro.
A ilha da Culatra é constituída por três núcleos habitacionais: a Culatra, os Hangares e o Farol. Em termos de administração territorial está integrada no concelho de Faro, freguesia da Sé.
O núcleo do Farol, com pouco mais de uma dezena de habitantes, caracteriza-se por ocupação sazonal, pelo que a maioria das edificações presentes é ocupada apenas na época balnear. O aglomerado urbano integra restaurantes, cafés, posto médico e supermercado.
O núcleo de Hangares é constituído por construções de habitação precária de génese ilegal, originalmente de apoio à atividade piscatória, sendo inexistentes os aprestos para esta atividade.
O núcleo da Culatra é o maior aglomerado da Ilha, com cerca de 1000 habitantes, integrando uma igreja, e uma escola, um centro social, um centro de saúde, um heliporto e porto de pesca; manifestando, portanto, sinais de uma vivência própria e consolidada. A população deste núcleo está maioritariamente ligada à atividade piscatória artesanal e ao marisqueiro.
A vida na Ilha da Culatra melhorou significativamente nas duas últimas décadas com a introdução da rede elétrica pública e privada, bem como com o sistema de saneamento básico. No entanto, é essencial criar condições para que os seus moradores possam não só continuar nas suas atividades económicas tradicionais, preservando a sua identidade e valores culturais, como também procurar novas atividades económicas compatíveis com a utilização racional dos recursos naturais.
A ilha da Culatra é o local ideal para testar um novo modelo económico que funcione em circuito fechado, minimizando consumos de materiais e perdas de energia. Uma verdadeira “Economia Circular” que permita a sustentabilidade ambiental da ilha e a iminente necessidade de adaptação às alterações climáticas. A ideia do projeto piloto aqui proposta é a de criar uma estrutura física na Ilha, de raiz, ou aproveitando uma estrutura existente, que permita agregar diferentes conceitos de energias renováveis, adaptáveis às atividades económicas da sua população, ou seja, transformar a ilha da Culatra numa comunidade energética sustentável, de acordo com o conceito “renewable energy community”.
As edificações de uma “renewable energy community” deverão ser energeticamente eficientes e ter consumos mínimos de energia (near-zero or zero-energy homes, ZEHs). A comunidade deverá produzir energia por fontes exclusivamente renováveis, privilegiar a mobilidade elétrica ou biocombustíveis e possuir hábitos e práticas de vida sustentáveis. Esta forma integrada de abordagem, de pensar e de agir coletivamente, partindo do todo para as partes, de interligação entre a componente habitacional e de mobilidade, pretende gerar soluções economicamente melhores do que as da perspetiva individual.
Acredita-se que estas comunidades energéticas podem desempenhar um papel relevante na geração de eletricidade de forma descentralizada. Um sistema descentralizado de produção de eletricidade que apenas pretende dar resposta ao consumo para o qual foi dimensionado. Um sistema descentralizado de geração de eletricidade deverá ser estruturado de forma que possa ter um grau de autonomia relativamente ao sistema centralizado, apesar de manter a sua ligação a este último.
A iniciativa “Culatra 2030” desenvolver-se-á de forma faseada e contemplará as seguintes ações:
Fornecimento energético regular com recurso a uma estação piloto de energia renovável;
Instalar uma estação de armazenamento energético;
Criar um conceito de micro-rede local que permita o uso inteligente da energia através da identificação das horas de pico e gestão eficiente dos recursos energéticos disponíveis;
Instalar uma estação piloto de recarga de barcos elétricos para transporte de passageiros. Promover a utilização de barcos solares nas atividades económicas dos moradores;
Desenvolver e aplicar novos conceitos de eficiência energética que permitam modernizar a habitação na ilha, integrando novos conceitos de bio- arquitetura, telhas fotovoltaicas, com climatização inteligente e adaptados às alterações climáticas;
Instalar uma estação piloto para o teste de fontes energéticas emergentes tais como as energias marinhas, biocombustíveis com recurso a algas, biogás e de produção de biomassa a partir de resíduos existentes na ilha;
Dinamizar a I&DT em dessalinização de água;
Instalar uma estação piloto de transformação dos resíduos produzidos na Ilha em energia.